Ailton Krenak toma posse em cerimônia na ABL

Ele é o primeiro indígena eleito em 127 anos da Academia Brasileira de Letras. Ailton Krenak toma posse na ABL Reprodução/TV Globo Numa noite histórica, o ambientalista, filósofo e poeta Ailton Krenak tomou posse na Academia Brasileira de Letras (ABL). Ele se tornou, nesta sexta-feira (5), o primeiro indígena a fazer parte da ABL. Uma noite como a Academia nunca viu. Um cardápio de tradições moldadas na terra, como a batata-doce cozida na argila. Um conjunto de vozes da floresta lembrando a luta pelo entendimento de que somos todos parte do mesmo mundo. "Eu me lembro do Ailton defendendo nossos direitos na Constituição, pintando seu rosto de jenipapo. E hoje, ele tá defendendo a nossa escrita, com nosso próprio punho dentro da Academia Brasileira de Letras. É muito emocionante", diz Maria Flor Guerreira, indígena da etnia Patachó. Ailton Krenak chegou de mãos dadas com a mulher, Irani. Vestiu fardão, sem tirar a característica bandana indígena. No Petit Trianon lotado, entrou aclamado por tudo o que é e representa. Poeta. Filósofo. Ambientalista. Krenak é o novo ocupante da cadeira número 5. O assento que acomodou a primeira mulher da ABL, Rachel de Queiroz, agora pertence ao primeiro autor indígena da Academia. A atriz Fernanda Montenegro entregou o colar de imortal e contou todo o tempo corrido até esse instante: "500 anos". A escritora Heloisa Teixeira recebeu, em nome da Academia, o confrade que traz um novo tempo. “É exatamente esse imenso universo da oralidade o que ele melhor traz para a Academia Brasileira de Letras, rompendo de um só vez com a tradição letrada e lusófona dessa casa”, afirmou a escritora em seu discurso. Autor de obras que nascem do poder da fala em discursos que ganham o mundo depois de transcritos, Ailton Krenak faz da voz a sua letra. “Se referir à oralidade como o oceano da oralidade é mais do que uma expressão poética. É reconhecer que nós somos herdeiros de tempos imemoriais onde quase tudo que a gente sabe sobre nós, humanos e a terra, vem desses registros”, disse o novo imortal em seu discurso. Ailton Krenak representa mais de 300 etnias reconhecidas pelos movimentos indígenas. E diz que pretende trazer todas elas pra dentro da ABL, abrindo os ouvidos da instituição literária dedicada ao cultivo da língua portuguesa para o que ele chama de sinfonia, formada por essas centenas de línguas-maternas. Citando o poema "‘Eu sou 300", de Mário de Andrade, Krenak dimensionou o tamanho de sua representatividade: “Eu não sou mais do que um, mas eu posso invocar 300. Nesse caso, 305 povos. Trezentos e cinco povos que nos últimos 30 anos passaram a ter a disposição de dizer 'estou aqui'”. Na tribuna, falou em nome de minorias. Cobrou direitos das mulheres, dos negros, dos povos originários. E disse como se sentiu com a notícia dos pedidos de perdão, aprovados esta semana pela comissão da anistia, aos indígenas perseguidos pela ditadura militar. “Pedir perdão depois significa muito pouco no sentido da reparação. A real reparação, a reparação verdadeira que se deve a povos que foram humilhados”, continua Krenak. A Academia Brasileira de Letras se prepara para abrir novas páginas da linguagem nacional. “Ele é o primeiro indígena eleito em 127 anos. Então, isso é significativo do que a gente quer. E nada melhor que o Krenak para estar aqui, para nos ajudar, para debater grandes temas. Vai ser muito bom”, afirma o jornalista Merval Pereira, integrante da ABL. “Um homem muito interessante e de uma origem muito especial. E muito importante para o desenvolvimento, para as causas, para redenção da vida brasileira”, celebra Gilberto Gil. “Ele é um homem extraordinário, um brasileiro por excelência, absolutamente resultado desse país”, conclui Fernanda Montenegro, integrante da ABL. O líder indígena acolhido com as honras da Academia e celebrou a noite do encontros com dança, canto e chocalho.

Ailton Krenak toma posse em cerimônia na ABL





Ele é o primeiro indígena eleito em 127 anos da Academia Brasileira de Letras. Ailton Krenak toma posse na ABL Reprodução/TV Globo Numa noite histórica, o ambientalista, filósofo e poeta Ailton Krenak tomou posse na Academia Brasileira de Letras (ABL). Ele se tornou, nesta sexta-feira (5), o primeiro indígena a fazer parte da ABL. Uma noite como a Academia nunca viu. Um cardápio de tradições moldadas na terra, como a batata-doce cozida na argila. Um conjunto de vozes da floresta lembrando a luta pelo entendimento de que somos todos parte do mesmo mundo. "Eu me lembro do Ailton defendendo nossos direitos na Constituição, pintando seu rosto de jenipapo. E hoje, ele tá defendendo a nossa escrita, com nosso próprio punho dentro da Academia Brasileira de Letras. É muito emocionante", diz Maria Flor Guerreira, indígena da etnia Patachó. Ailton Krenak chegou de mãos dadas com a mulher, Irani. Vestiu fardão, sem tirar a característica bandana indígena. No Petit Trianon lotado, entrou aclamado por tudo o que é e representa. Poeta. Filósofo. Ambientalista. Krenak é o novo ocupante da cadeira número 5. O assento que acomodou a primeira mulher da ABL, Rachel de Queiroz, agora pertence ao primeiro autor indígena da Academia. A atriz Fernanda Montenegro entregou o colar de imortal e contou todo o tempo corrido até esse instante: "500 anos". A escritora Heloisa Teixeira recebeu, em nome da Academia, o confrade que traz um novo tempo. “É exatamente esse imenso universo da oralidade o que ele melhor traz para a Academia Brasileira de Letras, rompendo de um só vez com a tradição letrada e lusófona dessa casa”, afirmou a escritora em seu discurso. Autor de obras que nascem do poder da fala em discursos que ganham o mundo depois de transcritos, Ailton Krenak faz da voz a sua letra. “Se referir à oralidade como o oceano da oralidade é mais do que uma expressão poética. É reconhecer que nós somos herdeiros de tempos imemoriais onde quase tudo que a gente sabe sobre nós, humanos e a terra, vem desses registros”, disse o novo imortal em seu discurso. Ailton Krenak representa mais de 300 etnias reconhecidas pelos movimentos indígenas. E diz que pretende trazer todas elas pra dentro da ABL, abrindo os ouvidos da instituição literária dedicada ao cultivo da língua portuguesa para o que ele chama de sinfonia, formada por essas centenas de línguas-maternas. Citando o poema "‘Eu sou 300", de Mário de Andrade, Krenak dimensionou o tamanho de sua representatividade: “Eu não sou mais do que um, mas eu posso invocar 300. Nesse caso, 305 povos. Trezentos e cinco povos que nos últimos 30 anos passaram a ter a disposição de dizer 'estou aqui'”. Na tribuna, falou em nome de minorias. Cobrou direitos das mulheres, dos negros, dos povos originários. E disse como se sentiu com a notícia dos pedidos de perdão, aprovados esta semana pela comissão da anistia, aos indígenas perseguidos pela ditadura militar. “Pedir perdão depois significa muito pouco no sentido da reparação. A real reparação, a reparação verdadeira que se deve a povos que foram humilhados”, continua Krenak. A Academia Brasileira de Letras se prepara para abrir novas páginas da linguagem nacional. “Ele é o primeiro indígena eleito em 127 anos. Então, isso é significativo do que a gente quer. E nada melhor que o Krenak para estar aqui, para nos ajudar, para debater grandes temas. Vai ser muito bom”, afirma o jornalista Merval Pereira, integrante da ABL. “Um homem muito interessante e de uma origem muito especial. E muito importante para o desenvolvimento, para as causas, para redenção da vida brasileira”, celebra Gilberto Gil. “Ele é um homem extraordinário, um brasileiro por excelência, absolutamente resultado desse país”, conclui Fernanda Montenegro, integrante da ABL. O líder indígena acolhido com as honras da Academia e celebrou a noite do encontros com dança, canto e chocalho.