AUMENTO de 107% nos focos de incêndios florestais
Desde o início do ano até setembro, o país já se aproxima do total de 189 mil queimadas registradas ao longo de todo o ano passado.

Brasil registra aumento de 107% nos focos de incêndios florestais
De janeiro até agora, o Brasil contabilizou aproximadamente 165 mil focos de queimadas, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Esse número representa um aumento de 107% em relação ao mesmo período de 2023. Desde o início do ano até setembro, o país já se aproxima do total de 189 mil queimadas registradas ao longo de todo o ano passado. Somente nos primeiros nove dias de setembro, foram detectados 37.492 focos de incêndios florestais.
Os estados mais afetados são Mato Grosso, com 10.593 focos de incêndio apenas em setembro, seguido por Pará (9.121) e Tocantins (3.178). Entre os municípios mais atingidos estão São Félix do Xingu (PA), com 2.076 focos, Altamira (PA), com 1.861, e Novo Progresso (PA), com 1.311.
Em termos de biomas, a Amazônia concentra 50,1% dos pontos de queimada, seguida pelo Cerrado com 32,4%, a Mata Atlântica com 8,8%, o Pantanal com 6% e a Caatinga com 2,6%.
Causas e cuidados
De acordo com o tenente-coronel Anderson Ventura, do Corpo de Bombeiros do Distrito Federal, apesar da legislação proibir o uso de fogo em vegetações, mais de 90% dos incêndios florestais são causados por atividades humanas.
“Muitas pessoas utilizam o fogo para limpar terrenos ou queimar lixo, ao invés de fazer o descarte adequado. Outras o usam para aquecer-se durante acampamentos, e, ao não apagarem corretamente as fogueiras, perdem o controle das chamas. Além disso, algumas práticas religiosas ainda envolvem o uso de fogo. O ideal, sobretudo nos meses mais secos, como agosto e setembro, seria evitar o uso do fogo em qualquer circunstância.”
Na semana passada, dois irmãos faleceram no município de Pedra do Anta, na Zona da Mata mineira, ao tentar conter um incêndio florestal próximo à propriedade da família. Por isso, o tenente Ventura alerta: ao identificar um foco de queimada, acione o Corpo de Bombeiros pelo telefone 193 e evite tentar combater as chamas sozinho.
“Não basta ter ferramentas adequadas; é essencial possuir o treinamento correto. Mesmo dois profissionais capacitados podem não ser suficientes para conter um incêndio florestal. Em muitos casos, são necessárias estratégias mais complexas, e algumas situações exigem que o combate seja realizado à distância.”
Fumaça e impactos na saúde
A extensão das queimadas formou uma grande massa de fumaça que atualmente cobre cerca de 60% do território nacional e se espalha por países vizinhos, como Argentina e Uruguai. No último domingo (8), Porto Velho (RO), Rio Branco (AC) e São Paulo (SP) foram classificadas como as três cidades com maior nível de poluição do ar no mundo, segundo o monitoramento da IQAir, empresa suíça especializada em qualidade do ar. Nesta terça-feira (10), São Paulo ainda se mantinha entre as cinco cidades com maior poluição.
A otorrinolaringologista Marcela Suman explica que a fumaça das queimadas é extremamente nociva ao sistema respiratório, à mucosa bucal e à saúde ocular.
“A fumaça contém partículas tóxicas que, ao serem inaladas, atravessam a barreira dos pulmões e chegam à corrente sanguínea, provocando intoxicações graves. O monóxido de carbono, um dos gases liberados, impede o transporte de oxigênio para os órgãos, o que pode causar danos sérios e até levar à morte.”
Entre os principais sintomas de irritação causados pela fumaça estão:
- Obstrução nasal;
- Ardência e coceira nos olhos, nariz e boca;
- Lacrimejamento e vermelhidão ocular;
- Crises de espirro;
- Tosse seca e intensa;
- Sensação de falta de ar e chiado no peito;
- Taquicardia;
- Sensação de cansaço extremo;
- Dor de cabeça;
- Dor de garganta e rouquidão.
“As crianças, os idosos e pessoas com condições alérgicas, como rinite e asma, são mais vulneráveis aos efeitos da fumaça, podendo desenvolver sintomas graves e até necessitar de hospitalização”, alerta a doutora Marcela Suman.
A principal recomendação para amenizar os efeitos da fumaça é aumentar a ingestão de água, o que ajuda a filtrar as substâncias tóxicas. A especialista também sugere manter os ambientes domésticos fechados e úmidos, evitando varrer o chão, o que pode levantar ainda mais partículas suspensas no ar.
Caso seja inevitável sair de casa durante a presença da fumaça, é importante utilizar uma máscara de boa qualidade para minimizar a inalação de substâncias tóxicas.