Branqueamento de corais: 5 de 7 estações de monitoramento estão em alerta máximo

Alertas começaram entre janeiro e fevereiro, mas problema se intensificou em março. Entenda o que é o fenômeno, causas e riscos associados a ele. Coral da espécie Millepora alcicornis em processo de branqueamento e peixe Sparisoma axillare Camila Brasil /PELD TAMS Os recifes de corais da costa brasileira estão enfrentando ondas de branqueamento devido ao aquecimento anormal das águas oceânicas neste ano. Dados compilados pelo Coral Reef Watch, da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA) dos Estados Unidos mostraram que cinco das sete estações monitoradas apresentam alerta nível 2 (o mais alto) nos meses de março e abril, com exceção das estações de Abrolhos (que registra alerta nível 1) e Búzios (sem alertas). Os recifes que estão em alerta máximo são: Fernando de Noronha (PE), Maracajaú (RN), Costa dos Corais (PE), Todos os Santos (BA), além de Trindade e Martim Vaz (PE). Pelos paineis do NOAA, os alertas começaram entre janeiro e fevereiro, se intensificaram em março e ainda persistem. De acordo com Beatrice Padovani, pesquisadora da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), os alertas de níveis 1 e 2 indicam risco de branqueamento e morte de corais elevados. Barra vermelha escura mostra que as estações chegaram ao alerta nível 2 Coral Reef Watch, da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos EUA (NOAA) "Este risco vai ser proporcional à permanecia da anomalia térmica nas águas, ou seja, quanto mais tempo ela persistir pior serão os impactos nos recifes", afirma Beatrice, coordenadora do Programa Ecológico de Longa Duração Tamandaré Sustentável (PELD-Tams), responsável pelo monitoramento nesse trecho de litoral. "Temos visto fenômenos naturais cíclicos do tipo El Niño mais intensos e concomitantes a ondas de calor, que são intensificadas pelas mudanças climáticas", acrescenta. Um estudo feito por por pesquisadores do ClimaMeter, divulgado em março deste ano, apontou que as mudanças climáticas provocadas pela ação humana - em especial a emissão de gases do efeito estufa consequente da queima de combustíveis fósseis - estão intensificando as ondas de calor registradas no Brasil. O que é o branqueamento de corais? O branqueamento ocorre, segundo portal do Programa de Pesquisas Ecológicas de Longa Duração (PELD), quando a água permanece aquecida de forma anormal para o ambiente com frequência, o que faz com que algas chamadas zooxantelas, que vivem em simbiose com os corais, se desprendam deles. São elas que contribuem para a coloração e a alimentação das colônias. Os corais são animais invertebrados (sem esqueleto ósseo). Não são plantas e nem fungos, como muitos podem pensar. Os recifes onde habitam formam ecossistemas extensos e ricos em biodiversidade, responsáveis por abrigar boa parte dos seres vivos marinhos. Coral é um animal invertebrado que vive em simbiose com as algas zooxantelas Camila Brasil/PELD-Tams Apesar de conseguirem se alimentar sozinhos, grande parte da dieta deles se baseia numa relação simbiótica com as zooxantelas – ou seja, os corais e essas algas vivem numa relação benéfica para ambos. Enquanto as algas fazem fotossíntese e passam nutrientes para os recifes, os corais oferecem abrigo e alimentação inorgânica. O coral não morre assim que ocorre o branqueamento, já que é possível continuar se alimentando de microrganismos, mas ele se torna mais suscetível a doenças e à morte. Umas das espécies mais sensíveis a mudanças no ambiente é o coral-de-fogo (Millepora sp). Quando corais morrem, isso impacta todas as formas de vida marinha que dependem dele. Outro fator preocupante diz respeito ao eixo econômico, já que os recifes provêm segurança alimentar para a população e renda para o turismo. Foto do Programa PELD-Tams, que monitora o branqueamento de corais em Tamandaré (PE) Thales Vidal/PeldTams Mas isso não é um fenômeno novo, outros eventos de branqueamento ocorreram ao longo dos últimos anos (2010, 2016, 2019 e 2020), sendo todos de modo intenso e com intervalos cada vez menores, conforme os monitoramentos indicaram. "Na escala ampla histórica, o que temos é um aumento de temperatura global decorrente do aumento de emissões de CO². Acordos de redução dessas emissões buscam deter esta escalada, e aderir a eles para reduzir via queima de combustíveis fosseis e via desmatamento são medidas urgentes e necessárias", diz a pesquisadora. Monitoramento Segundo Beatrice, é possível prever novos branqueamentos a curto prazo por meio dos sistemas de alerta que dão probabilidades de ocorrência. Os pesquisadores acompanham também a possível recuperação dos corais, pois daí saem importantes informações para medidas de restauração. Corais da costa do RN sofrem com branqueamento por causa das altas temperaturas da água do mar Natália Roos Além dos programas ecológicos de longa duração (PELDs) do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ), programas como o Reef Check, de ciência cidadã, e o Coral Vivo também auxiliam no trabalho de monitorar os ani

Branqueamento de corais: 5 de 7 estações de monitoramento estão em alerta máximo





Alertas começaram entre janeiro e fevereiro, mas problema se intensificou em março. Entenda o que é o fenômeno, causas e riscos associados a ele. Coral da espécie Millepora alcicornis em processo de branqueamento e peixe Sparisoma axillare Camila Brasil /PELD TAMS Os recifes de corais da costa brasileira estão enfrentando ondas de branqueamento devido ao aquecimento anormal das águas oceânicas neste ano. Dados compilados pelo Coral Reef Watch, da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA) dos Estados Unidos mostraram que cinco das sete estações monitoradas apresentam alerta nível 2 (o mais alto) nos meses de março e abril, com exceção das estações de Abrolhos (que registra alerta nível 1) e Búzios (sem alertas). Os recifes que estão em alerta máximo são: Fernando de Noronha (PE), Maracajaú (RN), Costa dos Corais (PE), Todos os Santos (BA), além de Trindade e Martim Vaz (PE). Pelos paineis do NOAA, os alertas começaram entre janeiro e fevereiro, se intensificaram em março e ainda persistem. De acordo com Beatrice Padovani, pesquisadora da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), os alertas de níveis 1 e 2 indicam risco de branqueamento e morte de corais elevados. Barra vermelha escura mostra que as estações chegaram ao alerta nível 2 Coral Reef Watch, da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos EUA (NOAA) "Este risco vai ser proporcional à permanecia da anomalia térmica nas águas, ou seja, quanto mais tempo ela persistir pior serão os impactos nos recifes", afirma Beatrice, coordenadora do Programa Ecológico de Longa Duração Tamandaré Sustentável (PELD-Tams), responsável pelo monitoramento nesse trecho de litoral. "Temos visto fenômenos naturais cíclicos do tipo El Niño mais intensos e concomitantes a ondas de calor, que são intensificadas pelas mudanças climáticas", acrescenta. Um estudo feito por por pesquisadores do ClimaMeter, divulgado em março deste ano, apontou que as mudanças climáticas provocadas pela ação humana - em especial a emissão de gases do efeito estufa consequente da queima de combustíveis fósseis - estão intensificando as ondas de calor registradas no Brasil. O que é o branqueamento de corais? O branqueamento ocorre, segundo portal do Programa de Pesquisas Ecológicas de Longa Duração (PELD), quando a água permanece aquecida de forma anormal para o ambiente com frequência, o que faz com que algas chamadas zooxantelas, que vivem em simbiose com os corais, se desprendam deles. São elas que contribuem para a coloração e a alimentação das colônias. Os corais são animais invertebrados (sem esqueleto ósseo). Não são plantas e nem fungos, como muitos podem pensar. Os recifes onde habitam formam ecossistemas extensos e ricos em biodiversidade, responsáveis por abrigar boa parte dos seres vivos marinhos. Coral é um animal invertebrado que vive em simbiose com as algas zooxantelas Camila Brasil/PELD-Tams Apesar de conseguirem se alimentar sozinhos, grande parte da dieta deles se baseia numa relação simbiótica com as zooxantelas – ou seja, os corais e essas algas vivem numa relação benéfica para ambos. Enquanto as algas fazem fotossíntese e passam nutrientes para os recifes, os corais oferecem abrigo e alimentação inorgânica. O coral não morre assim que ocorre o branqueamento, já que é possível continuar se alimentando de microrganismos, mas ele se torna mais suscetível a doenças e à morte. Umas das espécies mais sensíveis a mudanças no ambiente é o coral-de-fogo (Millepora sp). Quando corais morrem, isso impacta todas as formas de vida marinha que dependem dele. Outro fator preocupante diz respeito ao eixo econômico, já que os recifes provêm segurança alimentar para a população e renda para o turismo. Foto do Programa PELD-Tams, que monitora o branqueamento de corais em Tamandaré (PE) Thales Vidal/PeldTams Mas isso não é um fenômeno novo, outros eventos de branqueamento ocorreram ao longo dos últimos anos (2010, 2016, 2019 e 2020), sendo todos de modo intenso e com intervalos cada vez menores, conforme os monitoramentos indicaram. "Na escala ampla histórica, o que temos é um aumento de temperatura global decorrente do aumento de emissões de CO². Acordos de redução dessas emissões buscam deter esta escalada, e aderir a eles para reduzir via queima de combustíveis fosseis e via desmatamento são medidas urgentes e necessárias", diz a pesquisadora. Monitoramento Segundo Beatrice, é possível prever novos branqueamentos a curto prazo por meio dos sistemas de alerta que dão probabilidades de ocorrência. Os pesquisadores acompanham também a possível recuperação dos corais, pois daí saem importantes informações para medidas de restauração. Corais da costa do RN sofrem com branqueamento por causa das altas temperaturas da água do mar Natália Roos Além dos programas ecológicos de longa duração (PELDs) do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ), programas como o Reef Check, de ciência cidadã, e o Coral Vivo também auxiliam no trabalho de monitorar os animais. VÍDEOS: Destaques Terra da Gente Veja mais conteúdos sobre a natureza no Terra da Gente