Entenda por que 'chuva preta' não preocupa especialistas da região de Piracicaba: 'nada alarmante, só fuligem', diz pesquisador da USP

País está coberto por fumaça de queimadas e a fuligem da atmosfera afeta as chuvas. Previsão é de que com chuva, haja trégua na fumaça, mas especialistas dizem que é momentâneo. Chuva preta é resultado da mistura da água com a fuligem carregada pela fumaça Arquivo Pessoal Há mais de 25 dias de tempo seco, baixa umidade do ar e recorrência de queimadas na região de Piracicaba (SP), os meteorologistas não descartam a possibilidade de cidades registrarem o que tem sido chamado de chuva seja preta, com a chegada de uma frente fria que avança pelo interior de São Paulo a partir deste domingo (15). O fenômeno, entretanto, não preocupa os especialistas consultados pelo g1. - ????️ Veja como a chuva preta se forma e se tem impactos sobre a saúde no gráfico, ao final da reportagem. O professor e pesquisador Fábio Marin, do Departamento de Engenharia de Biossistemas da Esalq, o campus da Universidade de São Paulo (USP) em Piracicaba, explica que a chuva preta ocorre porque as nuvens que se formam nesses dias, com constantes queimadas em grande parte do país, são carregadas de fuligem e água da chuva fica mais escura. "Não é nada alarmante, é fuligem", afirmou. Questionado se essa chuva preta pode afetar as plantações agrícolas de alguma maneira, o especialista também esclareceu que não há motivos para preocupação no momento. Professor Fábio Marin da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo em Piracicaba Reprodução/Boletim Tempo Campo/Esalq O pesquisador do Centro de Pesquisas Meteorológicas de Climáticas da Unicamp (Cepagri), Bruno Bainy, esclarece que o fenômeno, popularmente chamado de 'chuva preta', não integra o escopo de previsões de forma técnica. "De modo pragmático, isso não faz parte do escopo da previsão meteorológica. É mais a título de curiosidade. E, talvez a conscientização de quão graves podem ser essas queimadas, especialmente as de grande proporção como as que a gente tem observado em amplas áreas do Cerrado, Pantanal, Amazônia", explicou. ????Circulação dos ventos da Cordilheira dos Andes Ainda segundo Bainy, a possibilidade de a região registrar o fenômeno da 'chuva preta' se dá pela circulação dos ventos. "Essa circulação vem, principalmente paralela à Cordilheira dos Andes, bem canalizada. Ela transporta essas plumas de fumaça e fuligem a longas distâncias. Como temos uma fria avançando pelo Sul do país nos próximos dias, e que vai chegar no estado de São Paulo no final de semana, temos o encontro desse escoamento atmosférico carregado de fuligem, de fumaça, com as áreas de instabilidade, de chuva", detalhou. Esse fenômeno, segundo o pesquisador, é 'interessante e curioso'. "Acima de tudo, demonstra a gravidade do problema das queimadas", alerta. Queimadas em Piracicaba: extensão de 2 mil campos de futebol ????Entre a última semana de agosto e as duas primeiras de setembro, Piracicaba (SP) teve aproximadamente 2.171 hectares de áreas de pastagem, cana-de-açúcar e vegetação atingidos pelos incêndios. ????O número, levantado pela equipe técnica da Polícia Militar Ambiental de Piracicaba, foi divulgado ao g1 pela Defesa Civil do município na tarde desta sexta-feira (13) e equivale a extensão de 2 mil campos de futebol. ????️Veja aqui as regiões dos incêndios. ➡️ Além de São Paulo, o fenômeno deve ocorrer em outros estados como Paraná, Santa Catarina, e em partes do Mato Grosso do Sul e do Rio de Janeiro. Balde com água escura após 'chuva preta' no Sul do RS Izaura Plantikow/Débora Rodrigues/Carol Vianna ????Mas, afinal, que é a chuva preta? ???? O país está em chamas. O mês de agosto foi o pior em número de incêndios no Brasil em dez anos, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). O fogo consome a matéria orgânica, de vegetação e, na queima, são liberados vários gases como dióxido de carbono, monóxido de carbono, dióxido de nitrogênio e outros compostos, explica a pesquisadora do instituto que monitora a fumaça, Karla Longo. ➡️ No entanto, o que vemos no céu são partículas restantes do que foi queimado, que é a fuligem. É ela que penetra as nuvens de chuva e faz com que a água fique escura. (Entenda no infográfico abaixo) A chuva é, basicamente, uma chuva de fuligem. Formação da chuva preta Bruna Azevedo/Luisa Rivas/Juan Silva/Arte g1 ????LEIA MAIS Chuva preta também é ácida e tóxica? Entenda como a fuligem 'muda' a água que deve cair sobre cinco estados A chuva preta pode ser ácida? ????️ A chuva ácida acontece quando há uma grande quantidade de poluentes na atmosfera que, misturados com a água, podem se transformar em ácidos. - Veja detalhes aqui. Segundo Karla Longo, a chuva preta não necessariamente é ácida. Isso porque a fuligem sozinha não alteraria a acidez da água. “O que estamos vendo nessa chuva preta é fuligem, partículas de matéria orgânica queimada. Isso não a torna ácida por si só”, explica.

Entenda por que 'chuva preta' não preocupa especialistas da região de Piracicaba: 'nada alarmante, só fuligem', diz pesquisador da USP





País está coberto por fumaça de queimadas e a fuligem da atmosfera afeta as chuvas. Previsão é de que com chuva, haja trégua na fumaça, mas especialistas dizem que é momentâneo. Chuva preta é resultado da mistura da água com a fuligem carregada pela fumaça Arquivo Pessoal Há mais de 25 dias de tempo seco, baixa umidade do ar e recorrência de queimadas na região de Piracicaba (SP), os meteorologistas não descartam a possibilidade de cidades registrarem o que tem sido chamado de chuva seja preta, com a chegada de uma frente fria que avança pelo interior de São Paulo a partir deste domingo (15). O fenômeno, entretanto, não preocupa os especialistas consultados pelo g1. - ????️ Veja como a chuva preta se forma e se tem impactos sobre a saúde no gráfico, ao final da reportagem. O professor e pesquisador Fábio Marin, do Departamento de Engenharia de Biossistemas da Esalq, o campus da Universidade de São Paulo (USP) em Piracicaba, explica que a chuva preta ocorre porque as nuvens que se formam nesses dias, com constantes queimadas em grande parte do país, são carregadas de fuligem e água da chuva fica mais escura. "Não é nada alarmante, é fuligem", afirmou. Questionado se essa chuva preta pode afetar as plantações agrícolas de alguma maneira, o especialista também esclareceu que não há motivos para preocupação no momento. Professor Fábio Marin da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo em Piracicaba Reprodução/Boletim Tempo Campo/Esalq O pesquisador do Centro de Pesquisas Meteorológicas de Climáticas da Unicamp (Cepagri), Bruno Bainy, esclarece que o fenômeno, popularmente chamado de 'chuva preta', não integra o escopo de previsões de forma técnica. "De modo pragmático, isso não faz parte do escopo da previsão meteorológica. É mais a título de curiosidade. E, talvez a conscientização de quão graves podem ser essas queimadas, especialmente as de grande proporção como as que a gente tem observado em amplas áreas do Cerrado, Pantanal, Amazônia", explicou. ????Circulação dos ventos da Cordilheira dos Andes Ainda segundo Bainy, a possibilidade de a região registrar o fenômeno da 'chuva preta' se dá pela circulação dos ventos. "Essa circulação vem, principalmente paralela à Cordilheira dos Andes, bem canalizada. Ela transporta essas plumas de fumaça e fuligem a longas distâncias. Como temos uma fria avançando pelo Sul do país nos próximos dias, e que vai chegar no estado de São Paulo no final de semana, temos o encontro desse escoamento atmosférico carregado de fuligem, de fumaça, com as áreas de instabilidade, de chuva", detalhou. Esse fenômeno, segundo o pesquisador, é 'interessante e curioso'. "Acima de tudo, demonstra a gravidade do problema das queimadas", alerta. Queimadas em Piracicaba: extensão de 2 mil campos de futebol ????Entre a última semana de agosto e as duas primeiras de setembro, Piracicaba (SP) teve aproximadamente 2.171 hectares de áreas de pastagem, cana-de-açúcar e vegetação atingidos pelos incêndios. ????O número, levantado pela equipe técnica da Polícia Militar Ambiental de Piracicaba, foi divulgado ao g1 pela Defesa Civil do município na tarde desta sexta-feira (13) e equivale a extensão de 2 mil campos de futebol. ????️Veja aqui as regiões dos incêndios. ➡️ Além de São Paulo, o fenômeno deve ocorrer em outros estados como Paraná, Santa Catarina, e em partes do Mato Grosso do Sul e do Rio de Janeiro. Balde com água escura após 'chuva preta' no Sul do RS Izaura Plantikow/Débora Rodrigues/Carol Vianna ????Mas, afinal, que é a chuva preta? ???? O país está em chamas. O mês de agosto foi o pior em número de incêndios no Brasil em dez anos, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). O fogo consome a matéria orgânica, de vegetação e, na queima, são liberados vários gases como dióxido de carbono, monóxido de carbono, dióxido de nitrogênio e outros compostos, explica a pesquisadora do instituto que monitora a fumaça, Karla Longo. ➡️ No entanto, o que vemos no céu são partículas restantes do que foi queimado, que é a fuligem. É ela que penetra as nuvens de chuva e faz com que a água fique escura. (Entenda no infográfico abaixo) A chuva é, basicamente, uma chuva de fuligem. Formação da chuva preta Bruna Azevedo/Luisa Rivas/Juan Silva/Arte g1 ????LEIA MAIS Chuva preta também é ácida e tóxica? Entenda como a fuligem 'muda' a água que deve cair sobre cinco estados A chuva preta pode ser ácida? ????️ A chuva ácida acontece quando há uma grande quantidade de poluentes na atmosfera que, misturados com a água, podem se transformar em ácidos. - Veja detalhes aqui. Segundo Karla Longo, a chuva preta não necessariamente é ácida. Isso porque a fuligem sozinha não alteraria a acidez da água. “O que estamos vendo nessa chuva preta é fuligem, partículas de matéria orgânica queimada. Isso não a torna ácida por si só”, explica.