Perueiros dizem ter sido ameaçados por dirigentes da Transwolff, empresa de ônibus investigada por ligação com PCC
Ministério Público também investiga ao menos outras três empresas de ônibus por lavagem de dinheiro do tráfico de drogas. Antigos cooperados denunciam retaliações e ameaças da direção da Transwolff Antigos perueiros cooperados da Transwolff, empresa de ônibus de São Paulo investigada por suspeita de ligação com a organização criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital), dizem que foram intimidados, coagidos e até ameaçados de morte por diretores da empresa. O advogado Rogério Dias Avelar representa um grupo de 11 pessoas nessa situação. Alguns deles foram ouvidos pelo Ministério Público na condição de testemunhas no âmbito da Operação Fim da Linha. Uma foto de maio de 2022 mostra mais de dez ônibus parados na garagem da Traswolff. Segundo os cooperados, os veículos não estavam com defeito — e, à época, não havia ônibus demais nas ruas, por exemplo. LEIA TAMBÉM Entenda como funcionava esquema entre empresas de ônibus suspeitas de envolvimento com PCC em São Paulo Lavagem de dinheiro, Marcola e ausência do Estado: entenda como o PCC se infiltrou nos serviços públicos de São Paulo Era uma punição porque o grupo havia acionado a Justiça na tentativa de fazer a direção da empresa cumprir uma antiga promessa de torná-los sócios. Como cooperados, eles só ganhavam quando o ônibus deles rodava. "A partir desse momento, começaram as retaliações: cerca de 11 veículos foram parados no sistema da noite para o dia. Veículos ficaram na garagem, sem catraca, validador", contou o advogado. O SP2 conversou com três perueiros que preferiram não se identificar. Confira alguns depoimentos: "Tinha medo de mexerem com a família da gente, com a gente. Qualquer coisa que a gente fizesse ali e eles não concordassem, eles poderiam ir atrás da família também". Perueiros denunciam Transwolff TV Globo "Muitos foram embora, você não sabe com quem está lidando". "Muitos cooperados venderam casa, bens. Ficaram com muitas dívidas, sem nada. Muitos carros foram passados para o nome dos diretores e foram pra Transwolff”. “Quando virou Transwolff, fizeram reunião e nos fizeram assinar um documento de doação" . A falta dos veículos nas linhas foi sentida pela população em 2022 e registrada pelo sistema de avaliação da SPTrans, que leva em conta, entre outros itens, o índice de satisfação do passageiro e a frota da empresa. No mês de maio de 2022, a nota da Transwolff caiu e foi considerada regular. Ainda segundo o advogado, os ônibus ficaram parados por 4 meses e só voltaram a rodar com uma liminar na Justiça. A Transwolff sucedeu a cooperativa de perueiros CooperPam, que operava linhas na zona sul da capital a partir de 2008; Como os perueiros tinham licença da prefeitura para trabalhar, foram incorporados pela empresa; Mas eles contam que, no lugar das peruas, tiveram que comprar ônibus financiados, com o compromisso de que passariam a ser sócios da Transwolff; A promessa de receber uma alta remuneração, no entanto, nunca aconteceu. Segundo o Ministério Público, antigos integrantes da Cooperpam foram coagidos a abrir empresas individuais para não receber direitos trabalhistas e a aceitar uma série de condições abusivas se quisessem continuar trabalhando. Os que não aceitaram, foram descredenciados da SPTrans e impedidos de continuar a prestar serviço. O promotor Lincoln Gakiya, um dos responsáveis pela Operação Fim da Linha, explica que os cooperados foram vítimas do esquema criminoso montado na Transwolff. Na denúncia do MP, 34 cooperados e ex-diretores são apresentados como vítimas. "Acabaram, de certa maneira, ameaçando, extorquindo, tomando a linha de pequenos sócios, que eram aqueles cooperados. Então, muitos deles ganham muito pouco. Tenho o caso de um que ganha R$ 800 por mês por um ônibus, e outro ônibus ele foi obrigado a vender a esse grupo acionário que é ligado ao PCC”. O Ministério Público afirma que, além da pressão financeira, alguns cooperados foram ameaçados de morte. Alguns aguardam a decisão da Justiça; outros, desistiram de tudo e saíram da empresa endividados. "Comecei a pegar empréstimo no banco, a vender minhas coisas, não estava conseguindo sobreviver" Um dos sócios da Transwolff preso durante a operação é Robson Flares Lopes Pontes, irmão de Gilberto Flares Lopes Pontes. Os dois já foram presos e processados por tráfico de drogas. De acordo com o MP, Gilberto era o responsável por guardar drogas e armas do PCC, mas foi assassinado em 2021, em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo. "No caso da Transwolff, ela tem toda uma engenharia contábil e financeira no decorrer desses anos todos para que esses sócios majoritários, ligados ao PCC, pudessem também capturar a direção dessa empresa. Mas aí é uma engenharia, devo dizer, bem mais sofisticada. Contou com apoio de contadores especializados no ramo", afirmou o promotor Lincoln Gakiya. Outro preso durante a operação foi o contador da Transwolff, Joelson Santos da Silva. O terceiro foi Luiz Carlos Efigênio Pacheco, conhecido como Pandora, principal dir


Ministério Público também investiga ao menos outras três empresas de ônibus por lavagem de dinheiro do tráfico de drogas. Antigos cooperados denunciam retaliações e ameaças da direção da Transwolff Antigos perueiros cooperados da Transwolff, empresa de ônibus de São Paulo investigada por suspeita de ligação com a organização criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital), dizem que foram intimidados, coagidos e até ameaçados de morte por diretores da empresa. O advogado Rogério Dias Avelar representa um grupo de 11 pessoas nessa situação. Alguns deles foram ouvidos pelo Ministério Público na condição de testemunhas no âmbito da Operação Fim da Linha. Uma foto de maio de 2022 mostra mais de dez ônibus parados na garagem da Traswolff. Segundo os cooperados, os veículos não estavam com defeito — e, à época, não havia ônibus demais nas ruas, por exemplo. LEIA TAMBÉM Entenda como funcionava esquema entre empresas de ônibus suspeitas de envolvimento com PCC em São Paulo Lavagem de dinheiro, Marcola e ausência do Estado: entenda como o PCC se infiltrou nos serviços públicos de São Paulo Era uma punição porque o grupo havia acionado a Justiça na tentativa de fazer a direção da empresa cumprir uma antiga promessa de torná-los sócios. Como cooperados, eles só ganhavam quando o ônibus deles rodava. "A partir desse momento, começaram as retaliações: cerca de 11 veículos foram parados no sistema da noite para o dia. Veículos ficaram na garagem, sem catraca, validador", contou o advogado. O SP2 conversou com três perueiros que preferiram não se identificar. Confira alguns depoimentos: "Tinha medo de mexerem com a família da gente, com a gente. Qualquer coisa que a gente fizesse ali e eles não concordassem, eles poderiam ir atrás da família também". Perueiros denunciam Transwolff TV Globo "Muitos foram embora, você não sabe com quem está lidando". "Muitos cooperados venderam casa, bens. Ficaram com muitas dívidas, sem nada. Muitos carros foram passados para o nome dos diretores e foram pra Transwolff”. “Quando virou Transwolff, fizeram reunião e nos fizeram assinar um documento de doação" . A falta dos veículos nas linhas foi sentida pela população em 2022 e registrada pelo sistema de avaliação da SPTrans, que leva em conta, entre outros itens, o índice de satisfação do passageiro e a frota da empresa. No mês de maio de 2022, a nota da Transwolff caiu e foi considerada regular. Ainda segundo o advogado, os ônibus ficaram parados por 4 meses e só voltaram a rodar com uma liminar na Justiça. A Transwolff sucedeu a cooperativa de perueiros CooperPam, que operava linhas na zona sul da capital a partir de 2008; Como os perueiros tinham licença da prefeitura para trabalhar, foram incorporados pela empresa; Mas eles contam que, no lugar das peruas, tiveram que comprar ônibus financiados, com o compromisso de que passariam a ser sócios da Transwolff; A promessa de receber uma alta remuneração, no entanto, nunca aconteceu. Segundo o Ministério Público, antigos integrantes da Cooperpam foram coagidos a abrir empresas individuais para não receber direitos trabalhistas e a aceitar uma série de condições abusivas se quisessem continuar trabalhando. Os que não aceitaram, foram descredenciados da SPTrans e impedidos de continuar a prestar serviço. O promotor Lincoln Gakiya, um dos responsáveis pela Operação Fim da Linha, explica que os cooperados foram vítimas do esquema criminoso montado na Transwolff. Na denúncia do MP, 34 cooperados e ex-diretores são apresentados como vítimas. "Acabaram, de certa maneira, ameaçando, extorquindo, tomando a linha de pequenos sócios, que eram aqueles cooperados. Então, muitos deles ganham muito pouco. Tenho o caso de um que ganha R$ 800 por mês por um ônibus, e outro ônibus ele foi obrigado a vender a esse grupo acionário que é ligado ao PCC”. O Ministério Público afirma que, além da pressão financeira, alguns cooperados foram ameaçados de morte. Alguns aguardam a decisão da Justiça; outros, desistiram de tudo e saíram da empresa endividados. "Comecei a pegar empréstimo no banco, a vender minhas coisas, não estava conseguindo sobreviver" Um dos sócios da Transwolff preso durante a operação é Robson Flares Lopes Pontes, irmão de Gilberto Flares Lopes Pontes. Os dois já foram presos e processados por tráfico de drogas. De acordo com o MP, Gilberto era o responsável por guardar drogas e armas do PCC, mas foi assassinado em 2021, em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo. "No caso da Transwolff, ela tem toda uma engenharia contábil e financeira no decorrer desses anos todos para que esses sócios majoritários, ligados ao PCC, pudessem também capturar a direção dessa empresa. Mas aí é uma engenharia, devo dizer, bem mais sofisticada. Contou com apoio de contadores especializados no ramo", afirmou o promotor Lincoln Gakiya. Outro preso durante a operação foi o contador da Transwolff, Joelson Santos da Silva. O terceiro foi Luiz Carlos Efigênio Pacheco, conhecido como Pandora, principal diretor da empresa. Os dois estavam em condomínios de luxo na hora da prisão. Gakiya confirmou que, após a análise de todo o material apreendido na operação, uma nova fase na investigação foi iniciada. "A gente vai trabalhar na questão da improbidade administrativa que, eventualmente, tenha ocorrido não só atualmente, mas desde 2014, 2015, esses contratos vêm sendo renovados. Isso vai ser compartilhado com as promotorias de improbidade. Vamos atuar também na questão de formação de cartel prosseguir na questão da lavagem". A Justiça de São Paulo negou, nesta sexta-feira (10), mais um pedido de liberdade de Luiz Carlos Efigênio Pacheco, um dos diretores da Transwolff presos. MP investiga outras 3 empresas de ônibus Além da Transwolff e da UPBus, o Ministério Público investiga a atuação do crime organizado em pelo menos outras três empresas de ônibus da capital. Elas já são investigadas pelos promotores e pela Polícia Civil por agir da mesma forma que as duas, ou seja, por usar as empresas para lavar o dinheiro do crime organizado, sobretudo do tráfico de drogas. O nome dessas empresas não foi divulgado porque a investigação da Polícia Civil e do MP ainda está em andamento. A defesa de Luiz Efigênio Pacheco diz que o cliente é inocente e nega que os antigos cooperados tenham direito a receber valores da empresa. A SPTrans, que assumiu a direção da Transwolff e da UPBus, disse que uma auditoria será contratada para dar apoio aos trabalhos dos interventores nas duas empresas.